domingo, 22 de maio de 2011

meu pai Xangô


O orixá é uma representação de um ou vários aspectos da vida interior, da alma, da mente ou qual seja o nome que se dê ao imenso fio vibrátil com que se tecem pensamentos e sentimentos no indivíduo humano.

O termo vibrátil designa, aqui, a relação necessária da vida mental/sentimental com a vida física. O orixá é uma manifestação da interação corpo/alma.

Xangô é, portanto, a principal pose com que minha naturalidade é fotografada pela vida. Mas não sou eu que a capto, é a câmera da vida. É quase como se eu dissese que eu mesmo não posso ver Xangô em mim. Ele é visto pelos olhos do mundo. Quem vê seu machado bilaminado em minhas mãos é o outro. Quem percebe a presença de Xangô, nos detalhes de cada pé e cada mão, na dinâmica dança da minha vida é o outro. O outro é o tempo, a história, a tal câmera que capta a pose altiva do orixá em mim.

Xangô é, portanto, a minha maneira natural de ser, de ser visto. Querer ser o que quer que seu fogo seja em mim. Querer ser dele a chispa, a fagulha, a brasa, a chama e até a labareda quando seja.

Querer que ele seja e que ele seja visto em mim.

Xangô é, portanto, o meu retrato, minha pintura, minha cantiga, meu tato, meu modo de dizer.

Xangô é minha naturalidade.



autor: Gilberto Gil, adaptado para o blog.

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