O Amor

imagem: web.

" Considerado um dos tesouros da literatura espiritualista, O Profeta é antes de tudo um poema ao poder do Amor Universal. O estrangeiro Almustafa, o "Profeta", é cercado por uma multidão, que lhe pede conselhos. Ele faz brever sermões sobre 26 temas em brilhantes metáforas e ritmo gracioso. A obra permanece sendo um marco da literatura espiritualista."

A partir de hoje, irei postar um a um, todos os 26 sermões da obra O Profeta de Khalil Gibran, comecemos pelo primeiro - talvez o mais longo de todos - sobre o Amor:


Quando o amor chamar-vos, segui-o,
Ainda que seus caminhos sejam íngremes dificultosos.
E quando suas asas envolver-vos, entregai-vos a ele,
Ainda que a lâmina oculta entre suas penas possa feri-vos.
E quando ele vos falar, acreditai-o,
Ainda que sua voz possa perturbar vossos sonhos, assim como o vento norte devasta o jardim.
Pois da mesma forma que o amor coroa-vos, ele vos crucifica. Da mesma forma que ele vos faz crescer, ele vos poda.
Da mesma forma que ele eleva-se a vossa estatura, e acaricia vossos mais delicados ramos que estremecem sob o sol,
Assim também ele descenderá até vossas raízes, e as sacudirá em seu agarrar à terra.
Como feixes de milho ele vos aperta junto ao coração.
Ele vos debulha para deixar-vos nus.
Ele vos peneira para separai-vos de vossas casacas.
Ele vos mói até tornarde-vos alvos.
Ele vos amassa até que estejais maleáveis;
E então, ele vos depõe em seu fogo sagrado, de modo que vos torneis hóstias sagradas para o banquete sagrado de Deus.
Todas estas coisas vos fará o amor, de modo que venhais a conheer os segredos de vossos corações, e em seus conhecimentos transformai-vos em um fragmento do coração da Vida.
Porém, se em vosso temor vós desejardes buscar apenas a paz e o prazer do amor,
Então é melhor para vós que cobri vossa nudez, apartando-vos da eira do amor,
E segui pelo mundo sem estações, no qual rireis, embora não todo o vosso riso, e chorareis, embora não todo vosso pranto.
O amor não dá nada além de si mesmo e não toma nada a não ser de si mesmo.
O amor não possui nem tampouco é possuído;
Pois para o amor basta o amor.
Quando vós amardes não deveis dizer, 'Deus está em meu coração', e sim, 'Eu estou no coração de Deus'.
E não penseis que sois capazes de dirigir o curso do amor, pois o amor, se achar-vos merecedor, dirige vosso curso.
O amor não deseja senão realizar a si mesmo.
Se vós, porém, amardes e inevitavelmente possuirdes desejos, que estes sejam vosso desejos:
De dissolver-vos e tornar-vos um ligeiro riacho, o qual entoa uma melodia pela noite.
De sentirdes dor de tanta ternura.
De serdes feridos por vosso próprio entendimento do amor;
E de sangrar desejosa e alegremente.
De acordar de manhã com o coração atingido e agradecer por mais um dia de encantamento;
De repousar ao meio-dia e meditar sobre o êxtase do amor;
De retornar ao lar ao anoitecer, repleto de gratidão;
E de então deitar-se com uma oração ao ente amado em vosso coração, e uma canção de louvor em vosso lábios.

fonte: Khalil Gibran, da obra O Profeta.